terça-feira, 26 de maio de 2009

Um pouco mais do Coletivo

MEMORIAL DESCRITIVO.

Coletivo de Teatro D’ Cara Suja

Historicidade

O Coletivo de Teatro D’ Cara Suja surgiu dentro do Projeto PEAS (Programa de Educação Afetiva e Sexual), nas oficinas de teatro, na Escola Estadual de Uberlândia, ministradas pela Professora de Arte Daiane Aparecida Costa.

O projeto conta com o fomento da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais. A Professora Fátima Desopa é a coordenadora geral do projeto oportunizando oficinas de dança e teatro aos alunos do ensino médio, regularmente matriculados e freqüentes da escola.

São oferecidas também oficinas teóricas e práticas com dinâmicas relacionadas aos temas abordados: sexualidade, afetividade, gênero e diversidade dentro do ambiente escolar.

O projeto tem como intuito, além de lidar com os saberes relacionados com a temática, desenvolver o protagonismo juvenil, auxiliando aos alunos envolvidos, a consciência do seu papel na sociedade, preparando-os para oferecerem oficinas nos próximos anos de permanência na escola, onde eles estarão mais bem preparados para atuar com responsabilidade social, enquanto discente da rede pública, repassando aos colegas o conhecimento adquirido nas oficinas do PEAS.

As oficinas atendem a cada seis meses a aproximadamente oitenta alunos da referida instituição de ensino.

Formação do Coletivo

Alguns alunos envolvidos na oficina de teatro, após vivenciarem a prática teatral dentro da escola, sentiram-se motivados a sair deste espaço de ensino regular, buscando uma independência quanto à pesquisa cênica. Para tal, começamos a escrever projetos e enviá-los aos órgãos que fomentem e oportunizem espaços para a divulgação da arte e cultura dos grupos e coletivos de artistas em Uberlândia.

Começamos a dialogar quanto às estéticas teatrais, as concepções de sociedade, a realidade que se encontram os artistas da cidade, os grupos existentes, o público, as leis de incentivo a cultura, espaços para apresentações e principalmente sobre o que desejávamos comunicar à platéia utilizando desta linguagem artística.

Concepções Estéticas

No ano de 2008 a coordenadora do Coletivo D’ CS Daiane Aparecida Costa, teve a oportunidade de vivenciar um período com o Coletivo Teatro da Margem, enquanto operadora de som, no espetáculo Canoeiros da Alma, coordenado pelo Dr. Ms. Narciso Telles da Universidade Federal de Uberlândia. Neste processo ela conheceu esta forma de organização coletiva, onde todos são responsáveis pela criação, surgida a partir de improvisações e treinamentos baseados nos Viewpoints[1]: espaço, forma, tempo, emoção, movimento e história.

Por se tratar de um processo colaborativo, o papel do diretor passa a ser de um orientador selecionando as cenas criadas, a partir de diálogos feitos com o coletivo de atores. Não apenas as funções relativas ao processo de criação, mas também a todas as demais que envolvem um coletivo de teatro, são lidadas de uma forma descentralizada e horizontal.

Partindo desta experiência e noção de Coletivo, configuramo-nos em abril de 2009 como um Coletivo de Teatro com encontros semanais de quatro horas seguidas às quartas- feiras, acontecendo alguns ensaios aos sábados pela manhã. O nome D’ Cara Suja surgiu numa brincadeira, na festa de aniversário de um dos integrantes, Raphael Venâncio, no dia 10 de junho de 2009. Ele sujou o rosto de todos do coletivo com bolo de chocolate nos presenteando com este nome _aqueles D’ Cara Suja.

Um dos intuitos do Coletivo é lidar com as questões da sociedade de uma forma lúdica, sem mascarar os problemas vivenciados e muito menos iludir quanto a uma realidade que existe apenas nos contos de fadas, ou no universo propagado pela mídia que se apropria da cultura popular e a difunde de uma forma geralmente deturpada, tendo como fim apenas o lucro.

Como numa brincadeira de criança, o Coletivo se apropria de uma técnica cênica, e dialoga com estas questões sociais criando o seu próprio texto, adaptando os já existentes e comunicando com a platéia de uma forma clara e simples, embasada numa estética teatral contemporânea.

Processo de criação

No início do processo não tínhamos nenhum texto, apenas estímulos e respostas oferecidas por eles com as imagens estáticas ou em movimento, do corpo. Partimos do “treinamento” dos Viewpoints e iniciamos um processo de criação a partir das imagens produzidas pelo corpo dos atores em cena e sua devida re-significação. Realizamos laboratórios de criação destas imagens a partir de estímulos que a coordenadora Daiane oferecia. Fizemos seqüências individuais e coletivas com repetições desses movimentos em tempos e planos espaciais variados, construindo uma linha narrativa que em seguida foi estruturada em texto dramatúrgico escrito por ela. Quando já estavam prontas todas as seqüências de ações colocamos as narrativas textuais se transformando em cenas curtas e performáticas, que podem acontecer em vários espaços, isolada ou coletivamente.

O intuito é não nos prendermos a um espaço de palco fixo e sim ocupar o ambiente que nos foi cedido para apresentação, da melhor forma possível, se apropriando da arquitetura e acústica disponível.

Além da escolha de uma estética contemporânea do teatro, o que nos levou a este tipo de estruturação de cena foi o consenso acerca da realidade do público de teatro em Uberlândia: a maioria nunca foi ou sabem onde se localizam os espaços institucionalizados do teatro.

Pensando nisso, verificamos a importância da apreciação teatral por parte destes Uberlandenses e as dificuldades encontradas para tal- os espaços geralmente utilizados para apresentações encontram-se na região central da cidade, o que gera dificuldade, de quem mora na periferia e/ou detém de uma renda econômica familiar mínima, de freqüentar estes espaços culturais.

Partindo desse pressuposto buscamos montar cenas que se adaptassem a locais públicos variados. Levar o teatro até o público. Apresentá-lo em terminais centrais, praças, quadras esportivas, escolas, todos devidamente autorizados pelos órgãos públicos competentes. O Coletivo não desconsidera a possibilidade de estrutura de apresentação no palco italiano ou arena, pelo contrário, criamos as cenas pensando nestes vários locais de palcos, tanto alternativos quanto institucionalizados.

Intervenção urbana “Cores e dissabores do Ser Humano”

Os temas abordados nos fragmentos de cenas são relativos aos sentimentos e ações do Ser Humano. O egoísmo, o pré-conceito e o individualismo são pontos preponderantes nas ações físicas e nas narrativas.

Por encontrarem-se todos na faixa etária dos 15 aos 17 anos, eles se referem um pouco a veracidade deste Ser Humano, nas hierarquizações etárias, no abuso de poder que muitas vezes os jovens estão imersos, apontando questões relativas ao pré-conceito as ações juvenis.

__Será que é difícil te pedir respeito, ou que você acredite em mim? Eu só preciso de uma oportunidade... Não precisa gritar, eu não sou surdo.... Deixe para me definir depois que tentar e não conseguir. Mas eu vou conseguir. Eu quero uma sociedade melhor. Eu quero oportunidade de ensino com qualidade básica de vida. (trecho de uma das narrativas)

Dentro deste universo Humano nos referimos poética e teatralmente:

· À individualidade;

· A artificialidade das ações cotidianas, onde as pessoas deixaram de se cumprimentar até mesmo com um aperto de mãos;

· Nos dogmas que somos expostos a acreditar, sem desenvolver nenhum espaço para diálogo;

· Na violência doméstica e urbana,

· E na alegria adquirida pela força coletiva das relações: lutar por uma sociedade menos desigual, em que as pessoas se olhem nos olhos e se abracem como um grande coletivo social, e não apenas indivíduos egoístas, cada um buscando o “seu lugar” de prestígio econômico, sem se preocupar com o próximo e as realidades que o circundam.

Reconhecendo a Arte como uma linguagem que consegue lidar com estas questões sociais e humanas de uma maneira poética, o Coletivo utiliza do corpo e das técnicas teatrais para comunicar à platéia sobre suas percepções de sociedade e vida através da intervenção “Cores e Dissabores do Ser Humano” com aproximadamente 35 minutos de duração, variando conforme o espaço ocupado para apresentação;

COSTA, D. A. Memorial descritivo do Coletivo D’ Cara Suja, Uberlândia, Minas Gerais, 2009. Revisão: LEME, B. A.P


[1]Este processo criativo surgiu a partir de pesquisas da dançarina e pesquisadora da área do teatro e dança contemporânea Anne Bogart que fundou em 1992 o SITI (Saratoga International Theatre Institute), juntamente com Tadashi Suzuki. Este processo de “treinamento” colaborativo acontece por meio da experimentação de exercícios de improvisação, partindo da relação de tempo e espaço dentro dos pontos de ação físicos e vocais como estímulo, escuta e resposta individual ou coletiva.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

D' Cara bem Suja


Foto: Luana Magrela

Estava escrito.
Onde mesmo? Em algum lugar bem distante...
nos sonhos, desta caminhante, que brilha intensamente...
Os holofotes estão acesos.
Não quero brilho e muito menos muito dinheiro.
__O suficiente para um aconchego.

Quero casa no sossego,
sítio perto de um vilarejo,
viola a tocar um sonho inteiro.
Poesias a cantar palavras trocadas
no chão deste sertão, desta cigana que não sabe ainda tocar violão.

Vocês me ensinam?

Trabalhar brincando é o que desejo,
olhinhos brilhando é o que hoje eu vejo
cantando que tem coisas escritas onde se vê relampagos,
faiscando alguns ensejos,
que trago guardado no peito.

Terei vida tranquila,
com Cara bem Suja,
até chegar minhas rugas.
Faremos ainda muitas modas sertanejas,
algumas bem roqueiras,
com blues e um pouquinho de Legião nostálgica,
e teremos até fogueiras,
e pelo menos duas ruguinhas sujinhas,
sendo irmãos de outros imundinhos,
ou até mesmo sendo deles sobrinhos.

São meus filhos, irmãos, eternos amigos,
companheiros e companheiras de vida,
casarei alguns deles, verei outros partir para outras terras,
alguns vão me seguir de lapela,
terão os que farão capelas,
E quando eu estiver bem velha,
contarão para os seus filhos
desta aqui_ senhora que lhes mostrou outro sentido de rir,
imaginação furtiva que os fazem livre dos pés até a testa,
ficando firmes em sua própria terra para sonhar ...
e um dia ei de vê-los todos se realizar.
E o que depender de mim, vão se realizar!

Seus sonhos e suas energias me fazem vibrar com alegria,
Dando-me forças para lutar eternamente,
só pra ver vocês sorrindo todos os dias em minha frente.


(ACosta)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Criando cenas a partir das ações coletivas e individuais


Foto: Daiane ACosta



Foto: Daiane ACosta



Foto: Daiane ACosta



Foto: Daiane ACosta